terça-feira, 26 de maio de 2009

Ô lêlê, ô lálá

Eu sempre fui muito curiosa. Muito mesmo. E sempre duvidei de praticamente tudo o que me despertava curiosidade. Também sempre tive (e ainda tenho) gosto pelo polêmico. Foram por basicamente esse motivos que eu comprei ''Deus, um delírio'' de Richard Dawkins. Até ver o livro eu não tinha a mínima idéia de quem esse cara era, nem muito menos sabia da existência dele.
Minha mãe não gostou da idéia que o livro passava quando terminou de ler a sinopse. Eu, ao contrário, adorei e tive minha curiosidade ainda mais provocada.
Quanto à religião, sempre tive um pé atrás. Alguns fatos não me fazem sentido.
Começei a ler o livro. Por causa dos comentários feitos à minha volta, quase começei a ver essa leitura como uma provação. Se eu terminasse de lê-lo e minha fé estivesse inabalada, eu havia superado o desafio. Acontece que depois não pensei mais assim.
Nunca fui uma religiosa frívola, e não me detenho lendo a Bíblia porque não consigo entender nada do que está escrito ali, na maior parte das vezes... Melhor dizendo, não consigo interpretar.
Logo, enquanto lia o livro, concordei com inúmeros argumentos usados por Dawkins para provar a não existência de Deus. Honestamente, eu não me sinto culpada. É que simplesmente os argumentos (ao meu ver, que fique claro) realmente mostram ter uma boa base, e eu me sinto mais avontade acreditando 100% em algo que eu possa ver e tocar.
Talvez eu não tenha o que chamam de ''fé''. Talvez eu não tenha porque ainda não passei por nenhum momento realmente difícil, daqueles em que todo mundo diz que ''só Deus pode trazer conforto''. Mas, como Deus não está mais em carne, ossos e víceras sobre a terra, ele não tem como segurar minha mão e tentar me confortar dizendo que tudo vai ficar bem ou que eu vou ficar bem. Alguém pode chegar e dizer-me, num momento de dificuldade ''oh querida, leia livro tal, capítulo tal, do versículo tal até o tal'' (nunca usei tanto ''tal'' em uma única sentença!), mas honestamente, já procurei conforto na Bíblia, num trecho indicado, e não consegui achar o que eu procurava. Pode ser que eu não tenha encontrado porque eu não seja uma cristã convicta, não estou descartando essa possibilidade, mas pode ser também que eu não tenha encontrado conforto porque ele simplesmente não estava lá!
No meu crer, questionar a fé, como também a existência ou inexistência de Deus é algo puramente humano. É algo inevitável.
Todo mundo diz que existem três conteúdos que não adianta se discutir: futebol, política e religião. Quanto essa última só posso afirmar que realmente é inútil discutir, porque sempre um cristão dirá uma coisa e o ateu contestará (ou vice-versa). No final não vai se chegar à lugar nenhum, a menos que sejam em brigas ou discursões verbais.
Dos argumentos em ''Deus, um delírio'', cito um que me chamou bastante atenção. É um em que com sete argumentos ele ''prova'' que Deus não existe:

'' 1- A criação do mundo é a realização mais maravilhosa que se pode imaginar.
2- O mérito de uma realização é o produto de a) sua qualidade intríseca e b) da capacidade de seu criador.
3- Quanto maior a incapacidade (ou desvantagem) do criador, mais impressionante é a realização.
4- A desvantagem mais formidável para um criador seria a inexistência.
5 - Portando, se supusermos que o universo é o produto de um criador inexistente, podemos conceber um ser maior - quer dizer, aquele que criou todas as coisas sendo inexistente.
6- Um Deus existente, portanto, não seria um ser maior que o qual não se pode conceber outro ser, porque um criador ainda mais formidável e incrível seria um Deus que não existisse.
Portanto:
7- Deus não existe. ''

E já no capítulo 3 ele cita as 5 ''provas'' de Tomás de Aquino para a existência de Deus.
De qualquer forma, não é somente para comentar sobre o livro que começei esse post.
O que quero dizer é que: E se Deus realmente não existir? E se todo mundo orar e pedir coisas a alguém que foi inventado? Você ficaria com raiva se descobrisse que o tempo todo acreditava numa mentira feita por outros seres humanos à milênio atrás? Que o Deus pelo qual você pede perdão todos os dias não pode dá-lo à você porque Ele não passa de uma mentira? Ao mesmo tempo me pergunto: E se eu não acreditar em Deus, e de fato Ele existir? Ele me deixará ir pro inferno porque não acreditei nEle? Ele perdoará meus pecados apesar de tudo? Ele me dará uma nova chance e me levará com ele para o Paraíso? E se a resposta for não, você vai pensar ''Que tipo de Deus misericordioso é esse onde não perdoa os erros dos seus filhos?'' Ou num momento de grande desapontamento/desespero, onde você recorre à Ele e Ele simplesmente parece estar ocupado demais cuidando das outras milhares de pessoas com dificuldades e problemas maiores que os seus, e você, magoado, se pergunta ''como pode Deus ser amor se ele simplesmente não me ama? Porque afinal, se me amasse verdadeiramente não me deixaria sofrer tanto''. Alguém pode dizer que Ele nos deixa sofrer porque nós também podemos aprender com o sofrimento, não? Talvez. Mas aprender sem sofrimentos é muito melhor, sem contar que é indolor. ''Como Deus pode ser onipresente, oniciente? Há tante gente no mundo para ele dar a mesma atenção igualmente''.
O que eu realmente não acho correto é alguém dizer no que se deve acreditar. É alguém dizer que não se pode duvidar de algo. Eu não sou uma máquina programada para obedecer ordens! Eu sou livre, tenho livre arbítrio (que Deus mesmo, se existir como dizem, me deu) e o direito de ir e vir, de acreditar ou discordar do que eu quiser. Como então as pessoas podem insistir para que eu acredite em tudo o que a Bíblia diz, sem contestar, sem fazer perguntas? Eu não vou pro inferno por que duvidei de algo. Deus não vai me odiar por isso, afinal, ele é o Pai mais amoroso e cuidadoso, não? Também não acho que por esse motivo eu tenha que desprezar a fé dos outros.
Eu não acredito em Deus, mas também não descarto a possibilidade de que ele exista. Eu tô em cima do muro (agnóstico é o nome mais bonito pra isso). Eu não me sinto à vontade dentro de uma igreja, mas me sinto à vontade para falar sozinha no meu quarto, antes de dormir, com alguém que talvez não exista (acho que é isso o que se chama de orar, rezar). Eu não gosto sempre de ouvir as palavras de Deus por intermédio de um pastor ou um padre, porque um pastor ou padre diferente pode interpretar essas mesmas palaras de outro modo. Interpretação para mim é algo pessoal.
''O mundo vai acabar em 2012''. Alguém disse-me que não, por que é coisa dos maias. E se for verdade? Essa mesma pessoa me disse que o mundo está perto do fim porque três ou quatro trombetas já foram tocadas (fui ao livro de Apocalipse e não encontrei vestígios de nenhuma trombeta tocada, dica). ''O mundo não vai acabar em 2012, disseram a mesma coisa na passagem do milênio''. Francamente, essa porra toda realmente importa? Não é melhor viver cada dia de cada vez ou cada dia como se fosse o último?
A única coisa que eu realmente acredito (e talvez, nem nisso) é que o ser humano precisa acreditar em alguma coisa. Alguma coisa maior, de preferência. E como evoluímos demais para acreditar, venerar e fazer orações ao sol, à lua, às estrelas ou qualquer coisa do tipo, optamos por acreditar em Deus, no filho dEle, na mãe do filho dEle ou nos santos.
E é por essa necessidade de acreditar em algo maior que leva tantas pessoas a repudiarem a idéia de (por exemplo) Jesus ter sido casado, de ter tido uma mulher e quem sabe até filhos. É isso que leva pessoas a terem a mente fechada e não irem de encontro aos dogmas. Talvez seja essa necessidade que faz com que sejamos humanos, que faça com que sejamos menos animalescos, que nos afasta da nossa natureza primitiva. Talvez sejam essas as razões que sustentam a fé... Enfim, já viajei demais. Fico mesmo por aqui. Ia falar sobre o evolucionismo, mas deixo para uma outra oportunidade ;-)

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